Entre o vinho e o Vinum
Há um novo espaço em Vila Nova de Gaia. Que reúne o que melhor há à volta do vinho do Porto. A história que está por detrás desta bebida, duas famílias proeminentes, uma adega centenária, a possibilidade de realizar provas e degustar pratos deliciosos. Sempre com o rio Douro como pano de fundo.
Passar horas num espaço dedicado á cultura do vinho sem se cansar não só é possível como mais do que aconselhável. A prova está nas Caves Graham’s 1890, recentemente reaberta, depois de uma remodelação profunda.
Agora, no mesmo espaço, a adega construída em 1890 com o objectivo de armazenar os vinhos da empresa, poderá conhecer o Museu, que conta a história de duas famílias ligadas entre si e à história do vinho do Porto, conhecer a adega, fazer provas e ainda saborear pratos deliciosos, quer no Wine Bar ou no Vinum Restaurant, tendo como vista a frente ribeirinha e o rio Douro.
O Museu era um projecto há muito acarinhado e que finalmente viu a luz do dia. E, agora, tudo começa por ele. Antes os turistas faziam o
percurso um pouco ao contrário. Começavam junto a um pequeno bar e junto à loja, visitavam a adega e terminavam no ponto de partida. As obras permitiram reordenar este percurso dando-lhe uma ordem.
Tudo começa na recepção. O visitante tem vários tipos de provas à sua disposição. Desde cinco a 50 euros. Posto isto inicia-se a visita. Num
Wall of Fame é possível conhecer a história de duas famílias escocesas, oriundas de Glasgow. E cuja ligação ao vinho do Porto remonta a 1820.
Através de documentos antigos autênticas preciosidades, podemos conhecer um pouco mais o percurso de quem se mudou para Portugal e decidiu investir na vinicultura. Em 1890 a família Graham já era proprietária da Quinta dos Malvedo. O outro ramo desta história vem através de Andrew Symington. Que chegou ao nosso país em 1882 para fazer um estágio e acaba por se apaixonar. Não só pelo país, como por uma anglo-portuguesa e pelo vinho do Porto.
O Museu apresenta peças interessantes e raras. É o caso do relógio de ouro Patek Philippe que pertenceu à rainha Maria Pia, mulher do rei D. Luís I. A peça foi adquirida por Andrew Symington, em 1910, como prenda de aniversário para a sua esposa, Beatrice. O relógio foi descoberto aquando da remodelação, tendo estado perdido por muitos e muitos anos. A importância desta peça foi visível no cuidado que a Patek Philippe teve aquando da sua limpeza. A empresa enviou expressamente um funcionário para transportar e entregar o relógio.
Durante todo o processo houve o cuidado de manter a estrutura e arquitectura original. As vigas são as originais e as janelas foram feitas tenho por base o desenho inicial.
No caminho para a adega, onde se pode ver cerca de 3200 cascos onde repousa o vinho, descobre-se mais algumas preciosidades. Como o cartaz dos anos 20, que foi descoberto, no sótão, durante as obras e que é caso único, ou uma antiga cisterna que a empresa decidiu manter. Pelo meio estão expostos alguns artefactos e exemplares de peças usadas antigamente. Como os instrumentos usados pela equipa de tanoaria, caso único no país.
Mais do que simplesmente mostrar o que se pretende é fomentar experiências. Que o turista perceba o que envolve a produção do vinho do Porto e se aperceba de que é um negócio de sacrifício, paixão, e que já existe há séculos.
A visita inclui ainda uma sala/biblioteca onde estão exemplares de livros antigos assim como quadros dos antepassados das duas famílias. Um recanto mais intimista, utilizado para as provas privadas.
No fim o visitante é surpreendido por uma maravilhosa vista para a frente ribeirinha. Pode relaxar e apreciar um vinho antes de se ir embora ou enquanto aguarda pela refeição. O espaço foi pensado nas mais variadas necessidades e experiências do visitante. Este pode simplesmente ficar a apreciar a paisagem. Adquirir alguma produto na loja. Tomar uma bebida e degustar um snack ou saborear uma refeição completa. Há para todos os gostos.
O Wine Bar está sempre aberto (das 10 às 24 horas) e disponibiliza tapas e petiscos, frios ou quentes. Para complementar serve vinho a copo, com preços que vão desde os 2,5 euros. Já o Vinum Restaurant, vocacionado para os momentos de almoço e jantar, permite degustar de uma refeição com vista para a frente ribeirinha ou para a adega.
Tendo por base o conceito de cozinha aberta todo o menu, elaborado por Iñaki Viñaspre, do grupo Sagardi, apresenta pratos pensados especificamente para acompanhar o vinho do Porto ou feitos com ele. A decoração do espaço foi pensada ao pormenor. Madeira. Materiais nobres e muita simplicidade. E uma parede de vidro que divide o restaurante da adega. Que permite que quem lá almoça, ou janta, tenha uma visão única. E a experiência de estar separado por centímetros de anos e anos de muito bom vinho do Porto.
“O Vinum reúne o melhor do vinho do Porto e da gastronomia nortenha”
As mesas não estão decoradas com nada mais do que os copos. Porque o que é importante é o vinho. Foi a resposta.
A pensar no bom tempo foi adicionado o Atrium. Um acrescento ao edifício original (e o único que não foi fornecido por empresas portuguesas) em forma de jardim de Inverno. Um espaço único, com vista sobre o rio Douro que tem a versatilidade de poder virar uma esplanada em tempos quentes.
Depois do espaço… a comida. Com a chancela do grupo Sagardi, empresa basca com larga experiência na restauração, no menu constam pratos deliciosos, mas sempre com uma base nortenha. É o caso do leitão, da raia, da sardinha… ou não tivesse Iñaki Viñaspre feito uma pesquisa exaustiva ao vários espaços de restauração existentes no Norte de Portugal.
Com espaço para acolher um total de 130 pessoas o objectivo desta nova aposta das Caves Graham’s é clara: fazer enoturismo do melhor do mundo. E, segundo Paul Symington, responsável pela Symington Family Estates, tornar o Vinium uma referência europeia de como receber as pessoas.
Artigo publicado no suplemento de viagens do Oje, a 12 de Abril de 2013