Palácio do Bussaco: um regresso ao passado
Localizado no interior da Mata Nacional do Bussaco encontra-se o edifício, construído em 1885, localiza-se um dos melhores exemplos do estilo neomanuelino português. A apenas duas horas de Lisboa e uma do Porto vale a pena uma visita. Pela história (foi ali que se travou a terceira, e última, invasão napoleónica a Portugal), pela envolvente (a Mata do Bussaco e os vários percursos pedestres disponíveis), pelo serviço ou simplesmente pela calma inerente. Deixe-se envolver pela natureza e alie um fim-de-semana de boa disposição, gastronomia e bom vinho.
Entrar no Palácio do Bussaco (ou Bussaco Palace Hotel) é recuar no tempo. Entrar num mundo de faz de conta. Em que Portugal dominava mares e comércio. Tempo de reis e rainhas, de festas glamorosas e vestidos sumptuosos.
O hotel está instalado num antigo palácio, do século XIX, residência do último rei de Portugal, D. Manuel II. Inserido na Mata do Bucasso, num terreno murado de 105 hectares, permite uma variedade de actividades. Para quem gosta do contacto com a natureza e de caminhadas existem três percursos temáticos oficiais.
A entrada neste mundo de faz de conta começa com a passagem dos muros que rodeiam a Mata do Bussaco e pelo segurança que as guarda. Segue-se um quilómetro de estrada, entre curvas e contracurvas, sempre a subir, em direcção ao centro da mata. E, se a viagem for feita já noite dentro, parece que se está num filme de fantasmas e/ou de terror. Há um ambiente sobrenatural a rodear a região. Ou não tivesse ali perto ocorrido uma das mais importantes batalhas da história portuguesa: a do Bussaco, que rechaçou a terceira tentativa de invasão napoleónica. Conta a lenda que existem fantasmas a assombrar o hotel.
A sensação de assombro, de boca aberta, de queixo caído, começa mal se entra no hotel. A própria entrada é ela própria um tributo à história portuguesa e à batalha que ali se realizou. O que é patente não só nos mosaicos que decoram o hall que liga a recepção, a sala de estar, e a escada que dá acesso ao primeiro andar, como também nas peças de artilharia disponibilizadas pelo Museu Militar.
O palácio foi construído no estilo neomanuelino e utilizando a pedra da região e o cedro da Mata do Bussaco. A obra esteve a cargo do arquitecto italiano Luigi Manini (com intervenções de Nicola Bigaglia, Manuel Joaquim Norte Júnior e José Alexandre Soares), que se inspirou na Torre de Belém, no Mosteiro dos Jerónimos, no Convento de Cristo em Tomar e nos Descobrimentos aquando do desenho do Palácio. A prova está nos arcos e janelas manuelinas, nos símbolos típicos, nos azulejos com painéis alusivos à chegada ao Brasil, à Índia, assim como a vários episódios dos Lusíadas. Convenhamos, todo o edifício é uma espécie de galeria/museu. Basta passear pelos vários corredores e salas para ter acesso a um pedaço da história portuguesa.
Desde 1996 que o Palácio do Bussaco foi classificado como sendo um Imóvel de Interesse Público. O que, aliado ao facto de ter a classificação de um dos mais belos hotéis históricos do mundo eleva a fasquia do atendimento e do serviço.
O começo da viagem
Aquando do check-in poderá solicitar ficar num dos três edifícios que constituem o hotel. Cada um com características distintas. Há o palácio, o acrescento (distinguível pela utilização de brasões na fachada) e o “anexo” – construído nos anos 30 prolonga-se até ao convento de Santa Cruz do Bussaco. E se no último impera uma decoração mais contemporânea, dominada pela utilização da madeira, nos dois primeiros a sensação é a de que estamos noutro tempo. Tectos altos, quartos amplos e mobília de época (ou pelo menos a indiciar a). E sempre com uma vista fabulosa. Quer para a mata ou para os jardins do Palácio. Despertar com o cantar dos pássaros e no meio do sossego é outra sensação. Que só se compreende experienciando.
Mas voltando ao check-in. Se possível aquando da reserva peça para ficar numa das alas mais antigas. Vai ver que vale a pena. E aproveite para passear. Dentro ou fora de quatro paredes.
Se gosta de história não deixe de dar uma volta pelo próprio hotel. E, em caso de dúvida não hesite em perguntar. Os funcionários têm muito gosto em ajudar e partilhar algumas histórias e estórias. Quer seja sobre a batalha do Bussaco e da pernoita do Duque de Wellington no convento de Santa Cruz do Bussaco (colocado ao hotel), ou sobre os fantasmas que habitam a região e a unidade hoteleira.
E há um pouco de história por todo o lado. O restaurante João Vaz, por exemplo, localiza-se no que foi outrora local de majestosos banquetes reais (convém referir que D. Manuel II passou as usas últimas férias antes do exílio precisamente no Palácio do Bussaco), estando decorado com frescos João Vaz ilustrando passagens marítimas de Os Lusíadas. De realçar o tecto mourisco, o soalho de madeiras exóticas e as janelas e portadas ao estilo manuelino. A refeição até ganha outro sabor. A envolvência confere um glamour extra às especialidades apresentadas. E, aproveite para acompanhar com o vinho da região, seja na versão branco ou tinto. Com uma casta muito específica (Baga) tem um sabor e aroma diferente do habitual, que só se encontra ali. A não perder.
Percorra a grande escadaria, suba ao primeiro andar onde pode observar mobília indo-portuguesa. E, se for possível, peça para visitar as suites Real D. Manuel e Rainha D. Amélia. Normalmente as “personalidades” optam pela suíte Real D. Carlos, constituída por uma sala de estar, de jantar, vestiário e quarto com amplo terraço a dominar os jardins e a floresta envolvente e que ainda tem a casa de banho e cama original. A não ser que mais de 1,8 metros. Como aconteceu com o cantor Mika, quando veio cantar a Coimbra. Tudo porque o Rei D. Carlos não era muito alto. Isto obrigou o cantor a optar pela suite Rainha D. Amélia, cuja mobília é da Belle Époque e um pouco “maior”.
Mas há muito mais para ver e fazer. Mesmo colocado ao hotel fica o Convento de Santa Cruz do Bussaco. Fundado em 1628 abrigava a Ordem do Convento das Carmelitas Descalças, possui uma decoração austera, de pedras brancas, pretas e vermelhas (quartzo, basalto e escórias ferruginosas), com o isolamento térmico e acústico a ser assegurado por um revestimento de cortiça nas paredes das celas. O (que resta do) convento está disponível para visita, inclusive o local onde terá pernoitado o Duque de Wellington e a oliveira onde terá descansado o seu cavalo.
Para quem gosta de história não deixe de visitar o Museu Militar do Bussaco, onde poderá encontrar todo o tipo de informação referente à batalha travada em 1810, uma colecção de armas de fogo, espingardas, pistolas e canhões, assim como de sabres e espadas, sem esquecer os uniformes das tropas envolvidas. Outro ponto obrigatório é o do monumento comemorativo da batalha, assim como a Cruz Alta, de onde poderá ter uma visão de toda a envolvente.
Pode também passear pela Mata do Bussaco, quer por um dos três percursos oficiais, percorrendo as várias ermitas e capelas existentes ou simplesmente passeado pelo Vale dos Fetos e seus lagos, a Fonte Fria com a cascata artificial ou pelos vários miradouros. Sem esquecer as Portas de Coimbra, em Santo Antão, onde poderá assistir a um pôr-do-sol espectacular.
Artigo publicado na revista Travel & Safaris, Verão de 2012.
Fotografias: Alexandra Costa e Samara Figueiredo