Cabo Verde, País de contrastes
Das dunas e praias a perder de vista da ilha da Boa Vista ao verde montanhoso de Santiago. Cabo Verde é constituído por nove ilhas, cada uma delas com uma morfologia e características diferentes. Há muito para ver na ilha da Boa Vista. E, embora as praias sejam paradisíacas e a perder de vista, vale a pena perder algum tempo a percorrer a ilha, a descobrir alguns paraísos desconhecidos para a maioria dos turistas. Já a ilha de Santiago é dominada pelo verde, pela cidade e pela montanha. Entre a beleza da natureza marinha e o agreste montanhoso o difícil é escolher.
A menos de quatro horas de voo de Lisboa encontra-se a ilha da Boavista, em Cabo Verde. Uma ilha dominada por praias a perder de vista, dunas selvagens, deserto e uma população simpática, sempre com um sorriso no rosto. O primeiro contacto com esta terra africana dá-se logo no aeroporto, completamente diferente dos europeus. Lá impera os espaços abertos. Mal chegamos somos brindados com o calor do sol, enquanto se espera pela fiscalização do visto e do passaporte.
A ilha dispõe de diversos resorts onde pode se pode alojar, a maioria deles com regime de tudo incluído. A escolha da Travel & Safaris foi para o Riu Karamboa Hotel. Localizado a menos de dois quilómetros do aeroporto disponibiliza 750 quartos, distribuídos pelos vários edifícios do complexo. De realçar não só a simpatia do pessoal como também a variedade da oferta. Tendo em conta que muitos dos clientes optam por não sair do resort este definiu uma oferta que permite que os turistas possam estar vários dias com divertimentos diferentes. Sejam aulas de dança ou hidroginástica. Sem esquecer os espectáculos à noite. Há também três restaurantes temáticos, a adicionar ao principal, que, segundo marcação, permitem experimentar a gastronomia asiática, cabo-verdiana ou africana. E, para quem gosta de desportos radicais o hotel tem acordos com empresas que fornecem passeios ou sessões de formação em windsurf, mergulho, entre outros.
Mas, quem gosta de aventura, piratas ou mergulho não pode deixar de ir à praia Atalanta, mais conhecida por Cabo Santa Maria. Trata-se de um navio espanhol que afundou na praia no ano de 1968 e que fazia o trajecto Europa/Brasil quando soube que estava a ser procurado, pelas autoridades, por contrabando. O armador mandou que atracasse em qualquer porto mas antes de o conseguir fazer encalhou na praia. O navio foi totalmente saqueado pela população. Principalmente porque transportava automóveis, cortiça e grandes sinos de bronze.
A carcaça do navio ainda se encontra na praia, dado que este nunca foi revocado. Actualmente serve de “casa” a algumas espécies marítimas e de local de mergulho. A embarcação está tão perto da praia que quando está maré baixa é possível chegar ao navio a pé. Actualmente é um dos ex-libris da ilha, com excursões quase diárias.
O ideal é contratar um serviço de um guia. Porque, embora a ilha seja relativamente segura e com bom tempo, os imprevistos podem sempre acontecer. A média diz que chove um a dois dias por ano em Boa Vista. Mas quando acontece… há certas zonas que podem ficar intransitáveis. A praia de Santa Mónica é um dos casos. Ir para lá, sem ser num jipe, pode fazer com que se fique encalhado. Por várias horas. É que aquela é uma zona da ilha com pouca cobertura de rede telemóvel.
Passeie por Sal Rei, capital da ilha. Veja as gentes e as crianças que vivem constantemente com um sorriso no rosto e vá até ao mercado. Desfrute da calma das ruas e visite a Galeria Cultural, junto ao Tribunal. Lá poderá encontrar diversos produtos artesanais, típicos da ilha e do continente africano. Desde pinturas e colares a quadros feitos com areia e pintados por cima, feitos por Maxs, artista há já oito anos. Há para todos os gostos e carteiras. Ou passeie à beira mar e desfrute da paisagem. Mesmo em frente ao mercado do peixe, onde os pescadores deixam o seu pescado, pode ver, num pequeno ilhéu, os restos do antigo forte Duque de Bragança. E, se gosta de história, ou pelo menos de conhecer as origens dos locais que visita, não deixe de fazer uma paragem no cemitério judeu, localizado junto ao Hotel Marine Club.
Embora relativamente pequena a ilha da Boa Vista tem uma história algo atribulada. Com piratas, naufrágios “forçados” e aldeias deslocalizadas. O Curral Velho é um bom exemplo. A população sobrevivia pelo trabalho na salina. No final da década de 60 a seca prolongada fez com que fosse impossível permanecer na localidade e a povoação mudou-se para o Norte da ilha. Hoje só restam algumas ruínas do que foi em tempos uma vila próspera. A única excepção é a habitação de um emigrante em França, que recuperou a casa dos pais, o “Le château de mom père”. Em frente há um ilhéu, do Curral Velho, considerada área protegida e que é a “casa” da ave Fregata Magnificens ou Rabil, uma das mais raras, que apenas se reproduz em dois locais (Curral Velho e Baluarte) do continente africano. Curiosamente a ave deu o nome à localidade de Rabil, local de onde era originária. Só quando a população a começou a caçar (e comer) é que se mudou para o Curral Velho.
Enquanto passeia pela ilha não deixe de visitar a Bofareira, a povoação mais antiga da Boavista. Faça uma paragem na vila e não deixe de visitar o “Cantinho da Amizade”. Mercearia onde pode adquirir alguns petiscos locais, assim como adquirir cigarros a avulso.
Um pouco mais para Norte, na Espingueira, fica o Ecolodge Spinguera, projecto levado a cabo por Larissa Lazzari. Aberto desde 2007 funciona totalmente a energia eólica e promete muita calma e descanso. São 12 quartos que são frequentados maioritariamente por casais, vindos da Alemanha, Franca e Portugal. Dada a sua localização inóspita (e propositada) o hotel oferece, gratuitamente, o serviço de deslocação até à cidade.
Aproveite o bom tempo e percorra as outras localidades da ilha. Vá até Fundos de Figueira e conheça a povoação que viu nascer o primeiro presidente da República de Cabo Verde, Aristide Pereira. Faça uma pausa e saboreie uma cerveja portuguesa (Super Bock ou Sagres) no bar Bons Irmãos e, caso seja o fim do dia, aproveite para conversar e escutar os “concertos” espontâneos.
Se é fã da natureza não deixe de visitar a praia da Varadinha, onde encontra grutas habitadas por morcegos ou fazer uma excursão nocturna à Reserva Natural de Costa da Fragata, onde poderá tentar ver as célebres tartarugas, símbolo da ilha.
Artesanato da ilha
Se gosta de artesanato não pode deixar de visitar a Escola de Olaria de Rabil, negócio que está na mesma família há várias gerações. Como refere João Baptista, de 35 anos, toda a família trabalha na olaria. Ele mesmo o faz desde 2000. E acrescenta que a tartaruga é a peça mais solicitada pelos turistas. Talvez pelo santuário existente na ilha e por ser um animal associado à mesma.
Também típicos da ilha são os chapéus de verga. João Ramos Brito tem 60 anos, vive na Povoação Velha, e já os faz desde que era “garoto”. Não que seja a sua actividade principal, mas a que faz com gosto. Começou por seu um negócio de família mas hoje só ele é que os faz. Primeiro há que entrelaçar as tiras feitas à base de folhas de bananeira. Trabalho que pode demorar dia e meio. Depois é necessário costurar. E assim nasce o chapéu que é vendido a turistas e lojas de recordações a um preço médio de 20 euros.
O verde da ilha de Santiago
Aproveite as férias em Cabo Verde e conheça mais do que uma ilha. Depois do relax da Boa Vista sugerimos uma passagem por uma morfologia diferente. O verde e a agitação da ilha de Santiago. Estão apenas a pouco mais de 30 minutos de voo de diferença mas não poderiam ser mais distintas. Se numa dominam as planícies na outra impera as montanhas, e a agitação de grandes cidades. Naquela que é a maior ilha de Cabo Verde vivem cerca de 260 mil pessoas, faz quais 125 mil na cidade da Praia.
Há muito para ver na cidade: o monumento alusivo ao português Diogo cão, que descobriu cinco das ilhas de Cabo Verde; a estátua de Caetano Alexandre d’Almeida e Albuquerque, considerado o melhor governador português (1926), o mercado e a Fortaleza Real de São Filipe, na Cidade Velha. Construído no século XVI para proteger a população dos piratas. Isto após Sir Francis Drake ter conseguido entrar na cidade (na segunda tentativa) e ter levado tudo de valor que encontrou. Apenas deixou seis canhões, que ainda estão na fortaleza. As riquezas na cidade eram demasiado apelativas. Naquela altura Cidade Velha era um dos dois principais pontos de transacção de escravos do mundo.
Activa até ao ano de 1712, quando foi destruída por corsários franceses, a fortaleza é hoje visitável pelos turistas, e de onde se pode ter uma vista panorâmica para a Cidade Velha e para as ruínas da antiga catedral, assim como a Igreja Nossa Senhora do Rosário, a mais antiga igreja católica em África, construída em 1495.
Vale a pena percorrer as ruas da Cidade Velha. A primeira cidade construída por europeus (portugueses) em África e considerada, em 2009, pela UNESCO, como Património Mundial da Humanidade.
Artigo publicado na revista Travel & Safaris, Outono 2012.
Fotografias: Catarina Larcher