Quinta-feira, Janeiro 23, 2025
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Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo: o Douro à mesa

A Progestur e a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, propriedade da família Amorim, desde 1999, uniram-se para mostrar que o Douro é mais do que vinho do Porto e que os vinhos da região são mais do que “interessantes” para acompanhar uma refeição.

O local de encontro foi o Sacramento do Chiado, um restaurante já habituado às lides vinícolas. A sua garrafeira é bem conhecida por quem trabalha no setor. O pretexto mais imediato para o encontro foi a apresentação dos vinhos da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, a convite da Progestur – Associação para o Desenvolvimento do Turismo Cultural Português, no âmbito de um ciclo de jantares vínicos. Mas, logo se percebeu que o objetivo era mais largo: mostrar que o Douro produz mais do que “simples” vinho do Porto e que este pode ser servido ao longo de toda uma refeição e não apenas no fim, como digestivo.

Pomares e Grainha

Para entrada Bernardo Mesquitella, responsável de vendas da Grande Lisboa, escolheu um Pomares Branco 2012. A marca entrada de gama da Quinta Nova. Originário de vinhas cuja idade média ronda os 20 anos, das castas Viosinho, Gouveio e Rabigato, tem a particularidade de não estagiar em madeira. Por ano a Quinta Nova produz cerca de 200 mil garrafas do Pomares, nas versões branco e tinto, com um preço de mercado de 6,60 euros. Com notas aromáticas cítricas e um aroma a ananás, trata-se de um vinho muito fresco e suave. O acompanhamento perfeito para servir de aperitivo.

Do vinho mais “descomplexado” para um mais completo. Com um paladar mais denso o Grainha Branco 2012 (PVP 12 euros) é nitidamente mais doce do que o vinho anterior. Feito com as castas Viosinho, Gouveio, Rabigato e Fernão Pires tem a particularidade de ser originário de vinhas velhas (entre 30 a 40 anos) e de ter estagiado seis meses em barricas novas de carvalho francês.

Depois dos brancos… os tintos. E de novo pelos mais “leves”. Ou, por outras palavras, um Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo Colheita 2011. Com um aroma a frutos vermelhos maduros, como a framboesa ou a amora, é um vinho muito aromático. Produzido com as castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinto Cão é, segundo Bernardo Mesquitella, o vinho que melhor identifica a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo. Com uvas de vinhas com uma idade média a rondar os 30 anos diferencia-se dos outros tintos pelo facto de não estagiar em barricas de madeira. A ideia foi o de criar um tinto leve, daí o recurso exclusivo às cubas de inox. E o resultado parece ter sido aprovado. Não só pelo mercado, pelos consumidores mas também pelos críticos. Não é por acaso que foi eleito, em 2013, pelo New York Times como o segundo melhor vinho do Douro.

Tinta Amarela

O esquema seguido na apresentação dos vinhos foi sempre o mesmo. Dos mais “simples” para os mais complexos. E depois de um tinto feito com estágio de nove meses em inox passou-se para um reserva, nomeadamente, o Grainha Reserva 2010. Feito com recurso às castas Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinta Barroca e Touriga Franca, apresenta um teor alcoólico de 14 graus. Aqui a madeira é sentida. No aroma e no sabor. E não é por acaso, dado que o vinho estagiou seis meses em barricas de carvalho francês. Trata-se de um vinho mais complexo que o anterior. Que requer um prato mais “pesado”, de forma a não abafar os sabores.

E quando julgávamos que a prova tinha acabado eis que surge o vinho Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo Reserva 2011 (PVP de 23 euros). O “ultra sumo” da marca. Um vinho com um teor alcoólico de 14,5 graus, feito com as castas Tinta Roriz, Tinta Amarela, Touriga Franca e Touriga Nacional. Um vinho que, apesar de complexo, é suficientemente suave. De tal forma que, apesar de se perceber que é alcoólico, não se consegue adivinhar, ao primeiro golo, o seu grau. Um vinho que estagiou, durante 17 meses, em barricas de carvalho francês e que foi agora para o mercado. Um vinho onde a Tinta Amarela é dominante e que, por isso mesmo, tem um sabor distintivo e diferenciador. Um vinho que adicionalmente estagiou durante seis meses em garrafas. Um vinho especial e limitado. Afinal, só foram produzidas 66 mil garrafas.

Para perceber melhor as diferenças e o que torna estes vinhos únicos convém referir a localização da quinta, na sub-região do Cima Corgo, junto ao Pinhão, a 380 metros de altitude. Por um lado os 85 hectares estão na transição entre os solos de granito para xisto. O que por si só confere um paladar diferente às uvas. Por outro lado, aquando da aquisição, não foi arrancada “uma única cepa”. Isto faz com que a Quinta tenha vinhas com 80/90 anos. “Todas as vinhas são de qualidade superior”, revelou Bernardo Mesquitella. Todos os vinhos, mesmo os de entrada de gama, são feitos com uvas de vinhas com mais de 25 anos. E isso nota-se no produto final.

Mas há mais. A morfologia do terreno exige que a vindima seja feita manualmente. O que, embora seja mais moroso e caro, permite uma maior qualidade das uvas, dado que há uma primeira seleção aquando da recolha das mesmas. A exigência na qualidade vai ao ponto de, nos Grandes Reserva, ainda recorrerem à pisa tradicional.

A estratégia da marca é muito simples. Primeiro vindima-se, sempre, as vinhas mais velhas. É onde está o ouro. Onde nada pode falhar. Não é por acaso que a empresa só perdeu cerca de 15% da produção de 2013. Cerca de 70% da vindima já estava feita antes das chuvas. E o que se perdeu…. Ganhou-se em qualidade.

Atualmente apenas os vinhos brancos são feitos com recurso a vinhas “alugadas”. Razão pela qual a marca não lhes pode chamar Quinta Nova. No entanto são, igualmente, vinhas velhas que, apesar de não serem propriedade da empresa, são trabalhadas pelos seus funcionários. Basicamente a Quinta Nova trata de tudo. Só não tem o terreno.

Com uma produção anual a rondar as 600 mil garrafas a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo está, cada vez mais, virada para a exportação. O objetivo, a dois anos, é o de exportar cerca de 70% da produção. Atualmente os valores rondam os 60 por cento. São 27 países onde a marca está presente, com maior incidência nos Estados Unidos da América, Angola, Médio Oriente e Brasil, onde entrou recentemente.

Desde o início que a marca decidiu diferenciar-se pela qualidade dos seus vinhos. Não só pela impossibilidade de aumentar a produção mas também pela rentabilidade dos mesmos. O portfólio consiste em três brancos, três Portos e nove tintos.

Em alternativa, e como forma de complemento, a empresa decidiu investir em novos negócios. É o caso das compotas, dos azeites, do mel e das tisanas. Com a marca Quinta Nova estão, numa primeira fase, a “atacar” o mercado nacional. Mas não a nível massificado. E sim as lojas/áreas gourmet.

Ciclo de jantares

A estas áreas junta-se o enoturismo, com o Hotel Rural Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo. Aberto em 2005, localiza-se na reconstrução de uma antiga casa senhorial, do século XIX. São 11 quartos com vista panorâmica para a vinha e para o vinho, decorados ao estilo da época. E que “está sempre cheio”.

O evento, realizado pela Progestur em parceria com o Restaurante Sacramento do Chiado, foi o primeiro de um ciclo de sete jantares vínicos. Com o custo de 45 euros por pessoa inclui provas de vinhos, jantar e tertúlia. Convém realçar que o número de inscrições é limitado e os associados do Clube Cultura da Progestur têm 10 por cento de desconto. Em cada jantar será apresentada a gama de um dos associados.

Os próximos jantares estão agendados para os dias: 21 de janeiro – Vinhos Pinhal da Torre (Ribatejo); 11 de fevereiro – Vinhos Quinta dos Avidagos (Douro); 11 de março – Vinhos Quinta Mendes Pereira (Dão); e 25 de março – Vinhos Torre do Frade e Virgo da Torre do Frade (Alentejo).

*Este texto foi escrito nos termos do novo acordo ortográfico.

Artigo publicado no Escape, a 7 de Janeiro de 2014.

Alexandra Costa

Jornalista desde 1996. Adoro viajar, conhecer novas culturas, experimentar gastronomias. Sou viciada em livros e nunca digo que não a uma boa conversa e amo a minha Luna. Defendo que mais vale poucos (e muito bons) amigos do que milhentos conhecidos. E prefiro ver o “copo meio cheio” em detrimento do “copo meio vazio”.

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