À descoberta do “outro” Algarve
O desafio foi feito, expressamente pelo presidente da Região de Turismo do Algarve, Desidério Silva. E devidamente aceite. Iniciar uma viagem por terras algarvias para descobrir que há mais do que apenas sol, praia e golfe.
A viagem começou bem cedo. Eram oito horas da manhã quando o grupo de jornalistas estava a sair de Lisboa com destino ao Algarve, mais precisamente à Pousada de Estoi, onde iríamos ficar alojados. A unidade escolhida, as actividades, os restaurantes e até a comida… todos tinham o mesmo objectivo: mostrar um outro lado do Algarve, com acesso directo a novos produtos turísticos que estão/vão ser lançados no mercado.
Estava um belo dia de sol. Verão em pleno Outono, com o termómetro a marcar uns 29 graus. Pelo que o que imediatamente atraiu a atenção, mal chegámos à Pousada de Estoi foi simultaneamente o jardim e a piscina. Assim como a esplanada que, com bom tempo, assume o papel de ponto de encontro entre os hóspedes.
E a “lição” começou logo ao almoço. Com uma ementa tipicamente algarvia: sopa rica de peixes com coentros; garoupa assada com cebolada de chouriço, grelos salteados e batata a murro; e tarte de figo com alfarroba e sorvet de limão. Ou seja, apostou-se nos sabores típicos da região. E isto porque uma das apostas do turismo para o Algarve passa precisamente pela gastronomia. Pelo reviver das tradições. Mas quanto a isso… é matéria do segundo dia.
A tarde foi passada a conhecer o projecto Tasa. Trata-se de uma rede de artesãos que utilizam as técnicas tradicionais e os materiais típicos do Algarve. E que com isso produzem produtos úteis, capazes de serem vendidos no mercado e com uma imagem contemporânea. Que pode passar por combinar técnicas diferentes. Um exemplo: a utilização da técnica dos tambores para criar uma cesta de piquenique. Ou a dos leques para desenhar uma manta (que acompanha a cesta do piquenique).
Esta foi uma forma não só de promover os produtos da região mas igualmente de fazer com que algumas artes não se percam no tempo.
Mas, para melhor perceber como é que os produtos são feitos e as dificuldades inerentes à sua criação nada melhor do que experimentar in loco. E isso é uma das coisas que o Tasca tem vindo a incentivar. A realização de workshops onde cada u pode aprender e fazer o seu próprio produto.
Artesanato na “primeira mão”
Pelas mãos do senhor Armando, e depois de umas explicações e exemplificações, tentámos criar uma peça em barro. Fazendo girar a roda o exercício consistia em fazer subir a peça, amparando-a com as mãos e dando-lhes forma, para depois alargar e recuar. Basicamente aprender os passos mais básicos da olaria. E o que parecia muito muito fácil (quando feito pelo senhor Armando) revelou-se na verdade algo complicado. Afinal fazer potes de barros é mais complicado do que se poderia pensar. O barro molda-se às nossas mãos e basta um movimento mais rápido, uma pressão mais forte para que toda a peça se desfaça.
Com o tempo apertado e ainda duas outras actividades para experienciar ficou a conversa com um senhor que toda a sua vida lidou com o barro. Afinal já é um negócio que veio de família. Mas que poderá “morrer” com ele. Isto apesar das sessões com as escolas e dos interesses demonstrados pelos mais pequenos. Tudo porque não é um negócio que dê muito dinheiro. Muito menos quando comparado com o trabalho que dá.
Do barro para as cestas feitas com cana. E à descoberta de que existem mais técnicas para a sua criação. Pode-se usar o “ponto” duplo ou triplo. Mas primeiro há que preparar a cana. Separa-la e torna-la fina e maleável para se poder criar os cestos. Feita a base e a estrutura há que preencher os espaços. Um pouco como nos bordados. Em movimentos alternados vai-se colocando uma cana sobre a outra e assim fazendo “subir” o cesto.
Trata-se de um trabalho braçal, algo monótono (digo algo porque basta um pequeno descuido para uma pessoa se enganar e “estragar” tudo) mas relaxante. Um trabalho feito, no antigamente, nos tempos “mortos”, quando havia mais tempo. Não era, no entanto, uma arte a tempo inteiro. Os cestos eram utilizados para transporte. Eram um produto utilitário, pelo que não era necessário grandes decorações ou enfeites. O que importava era a sua utilidade.
Uma alternativa aos cestos feitos com cana era os criados através da técnica da empreita de palma. Consiste em trabalhar as folhas de palma, separá-las, trata-las e depois entrelaçá-las segundo uma ordem muito específica. Desta forma consegue-se um material maleável que é depois utilizado para a criação de inúmeros produtos.
Esta foi provavelmente a experiência mais complicada e hilariante. Imaginem ter de entrelaçar nove folhas de palma, com cinco de um lado e quatro do outro. Uma de cada vez, segundo uma ordem específica. Escusado será dizer que o trabalho teve de ser refeito inúmeras vezes e que de vez em quando em vez de ter cinco e quatro tiras de palma….. tinha seis.
Com o final do dia era tempo de repor energias. A hora ia adiantada e era altura de experimentar um dos restaurantes típicos e relativamente pertos de Estoi. A escolha recaiu sobre a Adega Nunes. Porque a comida ainda é aquela típica, como que feita pela mãe/avó, porque se trata de uma casa centenária (o edifício data de 1902) com decoração rústica e porque é bem conhecida pela sua gastronomia. O queijo, a sopa de peixe, as papas de milho, a batata doce…. pratos simples mas saborosos e que reflectem as várias influências que passaram pela região.
Cataplana Experience
Depois de se ter experimentado o fazer artesanato chegou a altura, no segundo dia, de explorar uma nova vertente. A gastronómica. Uma das novas apostas passa por “ensinar” os turistas a fazer cataplanas. Sendo que o primeiro passo começa precisamente numa visita ao mercado, para a aquisição dos ingredientes. O de Olhão, por exemplo, é bem típico, com as bancas cheias de cor dos legumes e da fruta, assim como o apregoar do peixe fresco.
Chegados á Tertúlia Algarvia, projecto com pouco mais de um ano e que pretende criar espaços de promoção de cultura do Algarve. Num edifício bem no centro histórico de Faro, está situado um espaço que é simultaneamente uma loja, uma montra de artesanato, um espaço de convívio e um restaurante. Foi aqui que recebemos a nossa lição de como fazer uma cataplana.
No final deu para perceber que tendo os ingredientes base e o material em si (a cataplana) é relativamente fácil fazer o prato que é tão típico do Algarve. Mesmo porque há muita “invenção” pelo meio. E, por incrível que pareça, apesar de as três cataplanas terem os mesmos ingredientes os sabores finais foram ligeiramente diferentes.
Vinhos do Algarve
Com o estômago (mais do que) aconchegado é tempo de nos pormos (novamente) à estrada e ir conhecer outra área em desenvolvimento no Algarve. Os vinhos. Mais precisamente a Rota dos Vinhos do Algarve. Produto apresentado na última BTL está agora a entrar em modo mais operacional. Para já a região está dividida em quatro rotas, estando previstas mais duas. O turista recebe um passaporte com toda a informação e onde inclusive pode tirar nota dos vinhos que provou. A nós coube-nos ir até à Quinta de Mata-Mouros, com a marca Convento do Paraíso. A quinta teve recentemente uma mudança na sua gestão, encontrando-se actualmente sob a alçada da equipa da Herdade da Malhadinha Nova. A família Soares não só tem experiência com os vinhos (alentejanos) como uma empresa de distribuição, a nível nacional e internacional. Actualmente a gama contempla duas marcas (Euphoria e Convento do Paraíso) e quatro referências.
Experiências radicais
O último dia foi passado a explorar os recantos mais “desconhecidos”. Pelo menos para a maioria dos turistas que apenas conhecem o Algarve pelas suas praias. Mais para o interior. Junto à fronteira com Espanha, fica Alcoutim. Uma terra onde o rio (Guadiana) separa os dois países, onde a gastronomia assenta em peixes de rio como as enguias, e onde é possível fazer um slide radical. Tão radical que literalmente atravessa dois países. Onde se atinge mais de 70 km/h num percurso de pouco mais de 700 metros.
O ponto mais alto tem início em solo espanhol. Com todas as precauções e as regras de segurança cumpridas o trajecto é devidamente acompanhado por técnicos. Nos dois pontos do trajecto. E se de início pode dar um frio no estômago depois é apreciar o vento. Que parece querer levar o capacete que serve de protecção.
É uma experiência imprópria a quem tenha vertigens. Mas aliciante para quem gosta de emoções fortes. E no fim nada melhor do que fazer um passeio de 40 minutos de barco para chegar Laranjeiras do Guadiana, terra onde é possível se abstrair da realidade (mesmo porque a rede de telecomunicações é limitada) e apreciar a gastronomia local.
Alexandra Costa – 27Outubro2014@Opção Turismo
Artigo publicado, a 27 de Outubro, no Opção Turismo.