A Arte chegou a Lisboa
A Feira de Arte de Antiguidades de Lisboa está de regresso. E traz dois novos antiquários internacionais, a Galerie Mendes, de de Paris e a Guilhem Montagut Gallery, de Barcelona.
Entre 7 e 15 de Maio as atenções do mundo dos antiquários estão postas em Lisboa, mais concretamente na Cordoaria Nacional. Tudo porque é nessa altura que se realiza a XIV Feira de Arte de Antiguidades de Lisboa. Uma Feira de cariz internacional que, este ano, conta com mais quatro antiquários do que os da edição de 2014, e que se expandiu em mais 200 metros quadrados. No total são esperados cerca de 14 mil visitantes em “apenas” nove dias de evento. O OJE conversou com Manuel Castilho, presidente Associação Portuguesa dos Antiquários, que nos explicou as novidades da edição deste ano da Feira, assim como qual o papel desta arte na economia portuguesa.
Qual a importância de uma feira como a Feira de Arte de Antiguidades de Lisboa para o sector? Tem impacto nas vendas?
A Feira de Arte e Antiguidades de Lisboa, organizada pela Associação Portuguesa dos Antiquários, há vários anos que é a única exposição a realizar-se no campo das antiguidades. As Feiras organizadas por interesses comerciais como a antiga Feira do Convento do Beato não têm sido viáveis. É assim uma responsabilidade nossa organizarmo-nos para apresentar, todos os anos, o melhor que o sector dos antiquários tem a oferecer. O público interessado tem acorrido á Cordoaria Nacional todos os anos para apreciar e para adquirir obras de arte, tanto antigas como modernas e contemporâneas.
O aspeto das vendas é importante, digamos que é o “lubrificante” que mantém a viabilidade do sector. Todos gostamos de vender e até certo ponto o êxito da exposição é medido pelo volume de vendas. No entanto, este não é o objetivo principal desta iniciativa. A nossa Feira anual é um encontro, uma apresentação daquilo que somos, do que temos a oferecer e um confronto dos vários sectores do mercado da arte. Numa época de leilões insistentes é necessário afirmar a nossa existência, o nosso valor e o que os Associados da Associação Portuguesa dos Antiquários têm a oferecer, e que é único no panorama cultural nacional.
Quais as novidades deste ano?
A Feira este ano segue um modelo que foi fixado há três anos. Stands dos dois lados do corredor, um “lounge” com um bar, um restaurante de qualidade no extremo da ala direita. O aspeto social desta iniciativa é importante. Cada vez mais o público quer uma experiência completa. Ver objetos bonitos, obras de arte importantes, confraternizar com outros colecionadores e amigos e ter a oportunidade de jantar no magnífico cenário da Cordoaria Nacional, um edifício histórico.
Quantos expositores estarão presentes? Quantos serão internacionais? Houve um aumento dos números?
Nesta edição que é a décima sexta temos 21 expositores, mais do que nos dois anos anteriores. Dois dos expositores novos são estrangeiros. A Galerie Montagut, especializada em arte tribal e baseada em Barcelona, e a Galerie Mendes de Paris que expõe pintura europeia do Séc. XVI ao XIX.
Quais as expectativas em termos de número de visitantes? Isso significa uma evolução positiva?
Esperamos um número de visitantes superior ao do ano passado, porque mais expositores significa mais público, porque a economia dá sinais de melhora, porque tivemos meios para aumentar o volume de publicidade e porque contamos com um número crescente de visitantes estrangeiros. Lisboa é um destino que “está na moda”.
Quais as obras “estrela” da edição deste ano?
Antes da abertura da Feira não sabemos o que irá estar presente. Certamente irá haver obras muito interessantes e inéditas porque faz parte de um evento anual como este os antiquários guardarem peças especiais. Há certamente um elemento de orgulho e competitividade muito saudável.
Há outros aliciantes para a visita à Feira?
Há vários motivos de atração além do central, que são as obras de arte. O edifício histórico da Cordoaria Nacional é uma atracão em si. O arquiteto Jorge Dentinho este ano esforçou-se por deixar à vista o máximo possível do interior para integrar mais a mostra no espaço arquitetónico da Cordoaria. Há restaurante e bar e provas de vinhos da HO, uma empresa vinícola de elevada qualidade e reputação do Douro.
Qual o peso da Feira de Arte de Antiguidades de Lisboa no panorama internacional?
O peso desta Feira no panorama internacional não é tão grande como gostaríamos. Temos publicitado a Feira na imprensa estrangeira e é um evento conhecido no meio. É certo que todos os anos há um número de visitantes que se deslocam a Lisboa. No entanto esse potencial está longe de ser otimizado. Com o apoio das autoridades, como a Câmara e o Turismo de Lisboa e com uma legislação mais inteligente para a atividade dos antiquários, Lisboa poderia tornar-se um importante entreposto internacional do mercado da arte.
Como tem evoluído o mercado de antiguidades em Portugal? Conseguiu escapar à crise económica?
Os efeitos da crise económica fizeram e fazem-se ainda sentir. O mercado mudou, deslocou-se. Como em tudo na vida é necessária visão e adaptação. Vivemos numa época de transição e não podemos continuar a trilhar os mesmos caminhos gastos de outrora. Há que inovar, assumir a mudança. Há uma nova geração de compradores com prioridades diferentes, novos meios de informação e de acesso às obras de arte. Sem dúvida que existem colecionadores com capacidade para comprar arte, temos de os cativar, de os informar e de lhes prestar um serviço completo e de qualidade.
Qual o peso do setor na economia?
Em Portugal o peso do setor é pequeno, em grande parte por culpa da falta de visão dos sucessivos governos e de um cerco legislativo que se tem vindo a agravar em volta da atividade dos antiquários, e que é totalmente absurdo e inaceitável, e que nos coloca em grande desvantagem competitiva com os nossos colegas internacionais. De mencionar o injusto e brutal Novo Regime Jurídico da Ourivesaria e das Contrastarias, RJOC, a anacrónica legislação sobre circulação de bens culturais, a delirante legislação do CITES (sobre comércio de espécies em vias de extinção –marfins e outros) e a legislação sobre segurança privada. O país não tem a visão de que poderia haver em Portugal um mercado da arte com vitalidade, e de que esse mercado, em muitos países, tem um peso relevante no PIB.
A maioria dos clientes compradores de arte portuguesa são maioritariamente nacionais ou estrangeiros? Há algum mercado que se destaque?
O peso dos compradores nacionais tem decrescido em relação aos estrangeiros. É em parte um resultado da crescente globalização e neste aspeto um fenómeno global. Acontece também que Portugal é agora um destino com grande poder de atração internacional. O contingente francês é particularmente forte. Muitos estrangeiros estão a radicar-se em Portugal. São pessoas com dinheiro, muitas delas com hábitos de colecionar arte e que em muitos casos estão a montar casa.
Alexandra Costa/OJE