Rock in Rio: gerir a agenda de dezenas de artistas
Não é fácil conciliar datas que envolvam artistas de todo o mundo. Este ano Bruce Springsteen e Avicii obrigaram a mudanças no cartaz. Mas esses não foram os únicos desafios de Roberta Medina.
O Rock in Rio Lisboa 2016 começou ontem, e logo com “The Boss”. Bruce Springsteen regressou a Portugal e ao Rock in Rio depois de ter enchido a Cidade do Rock na edição anterior. Em 2014, foram mais de três horas de muita música e ainda a subida ao palco (surpresa) aquando do concerto dos Rolling Stones. Mas não é fácil criar um cartaz que envolve dezenas de artistas (maioritariamente internacionais) espalhados por cinco palcos. Para perceber como tudo funciona e o que se pode esperar do Rock in Rio Lisboa 2016, o OJE conversou com Roberta Medina, vice-presidente executiva do Rock in Rio.
Como é gerir a agenda de dezenas de artistas para conseguir elaborar um cartaz de cinco dias com vários palcos? Quais os principais desafios?
A principal dificuldade é mesmo conseguir articular as digressões dos artistas na agenda de um festival. Quando é uma tournée, o próprio artista escolhe a data e basta reservar a sala de espetáculos. Agora para inserir num festival, é muito mais difícil porque é o artista que precisa ajustar sua digressão para estar no festival, já que temos datas definidas. Depois, podem ainda acontecer situações como este ano: mudámos a data para conseguir que Bruce Springsteen conseguisse vir a esta edição, porque fazíamos questão de que o “Boss” marcasse presença no Rock in Rio-Lisboa 2016. Para além de que foi responsável pelo momento que ficará para sempre na memória dos portugueses, quando, de surpresa, subiu ao Palco do Rock in Rio, em 2014, para cantar com os The Rolling Stones. Fora isso, no caso do Rock in Rio, focamo-nos em ter sempre uma grande diversidade musical e artistas de topo como headliners, o que faz o desafio crescer porque muitos não estão em tour todos os anos e têm agendas muito disputadas no mundo inteiro.
Com que antecedência começam a preparar a nova edição?
Já estamos a preparar a próxima edição de Lisboa (risos)! Sem falar no Rio, Las Vegas e Buenos Aires, que também estão na nossa agenda do dia a dia! O que acontece é que o timming dos departamentos é que vai variando entre uma edição e outra. Uma das coisas mais importantes é fazer avaliações do que corre bem ou menos bem à medida que as coisas vão acontecendo e no dia depois de o evento acabar para que tenhamos tudo fresco na cabeça e já possamos delinear ajustes e novidades para a edição seguinte.
Qual foi o artista mais desafiante?
Nesta edição, foram o Bruce [Springsteen] e o Avicii, que provocaram mudanças de datas para garantirmos as presenças, e os Maroon 5, que “tirámos de casa”, pois já não estão mais em tournée.
Quais os requisitos mais estranhos alguma vez solicitados?
Hoje em dia há menos pedidos extravagantes. Em 1985, na primeira edição, era mais complicado. O Brasil era fechado para o mundo e se alguém pedia uma água Evian, por exemplo, era um drama porque não havia. Hoje em dia, já é possível encontrar quase tudo e os próprios artistas são menos excêntricos. É frequente pedirem sumos, águas, frutas, comida orgânica. Alguns pedidos engraçados: Elton John especificou os centímetros do vaso que queria com um determinado número de rosas vermelhas e o caule cortado com “x” centímetros. E nós assim o fizemos! Em 2014, os Rolling Stones pediram uma pista de atletismo para poderem correr antes do show. Prince, no Brasil, pediu 500 toalhas brancas e deve ter usado umas duas.
Como definem os artistas a abordar? Os patrocinadores têm uma palavra a dizer na elaboração do cartaz?
A equipa artística tem soberania nestas decisões e é comandada diretamente pelo Roberto Medina. Começam sempre por sondar o mercado (pesquisas de mercado, rádios, plataformas de música, etc), perceber o que move as pessoas e o que o público quer ouvir. É um processo intenso, que compila muita informação e que resulta numa lista de prioridades. Entre diversos fatores, temos sempre de ter em conta o perfil do evento, que é absolutamente transversal em termos de idades e estilos. E, por isso, temos sempre a preocupação de encontrar artistas/ bandas que vão ao encontro do gosto de públicos variados, daí termos dias dedicados ao público mais jovem, dias mais rock, etc.
Qual o peso/importância dos artistas nacionais?
Para nós, Portugal tem talentos enormíssimos na área da música e, por isso, continuamos a trazer nomes nacionais ao Rock in Rio. Os Xutos e Pontapés, por exemplo, já conquistaram o seu lugar na Cidade do Rock. O público gosta e quer ver, por isso, para nós é sempre uma aposta ganha. Este ano, estreiam-se no Palco Mundo os D.A.M.A., a banda sensação do momento, com uma participação muito especial, o brasileiro Gabriel O Pensador. No Palco Vodafone, vamos ter cinco bandas portuguesas já bem conhecidas do público, que são os Sensible Soccers, Capitão Fausto, Keep Razors Sharp, Glockenwise e B Fachada.
Novos talentos. É importante a sua divulgação? Há espaço para isso no Rock in Rio?
Mais do que falar em novos talentos, o Rock in Rio tem por princípio apresentar novos horizontes musicais para um público prioritariamente mainstream. Os outros palcos do evento que não o Palco Mundo têm, historicamente, este papel. Foi assim em 2004 com o Palco Raízes, dedicado à world music; em 2006, o Hot Stage, dedicado a novos talentos; de 2008 a 2012, o Sunset apresentou talentos de renome (e não só) em novos formatos e leituras; e o Palco Vodafone, com música alternativa desde 2014. Além disso, a eletrónica também cumpre este papel além de atender a um público específico dentro do evento. O mesmo para a Rock Street, que traz a cultura de outros países para dentro da Cidade do Rock.
Por Alexandra Costa/OJE