Apresentação + sabor + qualidade + criatividade = restaurante Largo do Paço
Numa paisagem idílica, uma comida de sonho. Ingredientes frescos, produtos tradicionais e, simultaneamente, uma desconstrução dos típicos pratos nacionais com a criatividade na mistura de texturas.
É difícil dizer o que cativa mais no restaurante Largo do Paço, localizado na Casa da Calçada, em Amarante. Se é o facto de estar inserido num hotel da rede Relais & Cateaux (o edifício é do século XVI e era um dos palácios do Conde de Redondo), com toda a beleza envolvente, se a garantia de ter uma estrela Michelin, ou o ter sido considerado, pelo Guia European 50 Best.com, como o segundo melhor restaurante da Europa.
A imponência do edifício da Casa da Calçada é o que chama imediatamente a atenção. Mas, ao entrarmos no restaurante isso rapidamente passa para segundo plano. Tudo começa na forma como somos recebidos. Aqui prega-se a chamada “arte de bem receber”. E tudo é pensado ao pormenor. Desde a decoração da sala, a apresentação, textura e sabor dos pratos, a combinação com os vinhos (sendo que, é claro, se dá destaque aos vinhos da casa – Casa da Calçada) até à clara promoção nas mais valias da região – aka, os doces conventuais.
Os “miminhos” do chef chegam antes da refeição e surpreendem pelo aspeto. Um nabo com recheio de bacalhau apresentado como se uma planta (inserida num vaso com terra) se tratasse. Sem esquecer a teatralidade da espuma de ouriço do mar. Aqui o recurso ao gelo seco que, em contacto com a água quente, não só proporciona um bom espetáculo visual como faz com que o fumo atravesse as algas, auferindo um sabor distinto ao prato.
A nova carta, elaborada pelo chef André Silva, apresenta algumas surpresas. O caso do hambúrguer com foie gras é um bom exemplo. Algo considerado (por muito tempo) fast food pode ser modernizado e apresentado como uma pequena entrada.
E que tal uma barriga de atum com lagostim e uma espuma de wazabi? Este é um daqueles pratos que ficam na memória, seja pela beleza da apresentação, pelo contraste (texturas e sabores) ou simplesmente porque é absolutamente delicioso, devidamente acompanhado por um vinho branco fresco.
Nos pratos principais, a preocupação foi a de ter várias opções que satisfizessem os vários gostos dos clientes. No entanto, é claro que há os chamados “campeões”. No caso do peixe, o destaque vai para o bacalhau e para a utilização de pescado sempre fresco. Uma espécie de desconstrução de pratos tradicionais, confecionados e apresentados de forma diferente e mais atrativa.
Já na carne… o Alto Minho é, por excelência, a região do cabrito. Uma carne da qual, dado o seu sabor típico, nem todas as pessoas gostam. Mas aqui não é necessário esse receio. A forma como o chef André Silva (e equipa) a confeciona retira-lhe esse sabor. No final, o que fica é a macieza da carne, a sua acidez, que é contrariada pela doçura dos legumes e acentuada pelo vinho tinto mais encorpado.
Esteja ou não cheio, deixe um espaço para a sobremesa. O Largo do Paço optou por, aos tradicionais Papos de Anjo, adicionar um recheio de espuma de queijo da Serra e acompanhá-los com pinhões e gelado de vinho do Porto. Irresistível.
Por Alexandra Costa/OJE