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Restaurante do Vidago Palace Hotel: Combinações improváveis de inverno, por Rui Paula

Sob a batuta (diga-se orientação) do premiado chefe Rui Paula o restaurante do Vidago Palace apresenta uma carta que conquista, em todos os sentidos.

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Imponente e majestoso. Estas são duas das palavras que podem descrever o Vidago Palace Hotel (Chave de Ouro, na edição 2016 do guia Boa Cama Boa Mesa). Reconhecido como um dos hotéis mais românticos da Europa tem aquela que é, provavelmente, a mais aristocrática sala do país. O outrora salão de baile, agora Salão Nobre, é hoje o palco preferencial de uma refeição que, em tudo, ajuda a enobrecer tão majestoso espaço.

É impossível não recuar aos famosos (e loucos) anos 20 e 30 do século passado. Sensação que não só deslumbra, mas também acaba por colocar a fasquia (para a comida) muito elevada.

Sob a batuta (diga-se orientação) do premiado chefe Rui Paula (Boa Nova, DOP e DOC), o restaurante do Vidago Palace Hotel (Tel. 276 990 920) apresenta uma carta que conquista, em todos os sentidos, dos olhos ao palato. Prepare-se para uma explosão (equilibrada) de sabores, contrastes e texturas.

A inspiração é, aparentemente, simples: usar os produtos de época (estamos em Trás-os-Montes!), criando uma ligação entre a Terra e o Mar. Quer seja através de um dos menus de degustação (€70 e €80, sem bebidas. Ou €95 e €110 com vinhos incluídos) a promessa é só uma: cada prato é uma surpresa, com combinações consideradas (quase) impossíveis. É o caso, por exemplo, do Queijo de búfala com três tipos de beterraba (roxa, amarela e branca). Um prato que “pede” um rosé, como o da Quinta do Portal, 2015, que ajuda a atenuar o sabor forte da beterraba, nomeadamente o vinagrete usado para temperar a variante roxa. Uma escolha arrojada dado que nem todos apreciam o sabor deste produto.

Para quem aprecia entradas quentes a sugestão vai para as Migas de alheira, ovo de codorniz, espargos grelhados e molho de sidra. Um prato que deveria ser algo pesado. Deveria porque a utilização dos espargos e o molho (complementado por um branco Quinta do Arcossó, Reserva, 2015) conferem leveza ao conjunto ajudando a suavizar o sabor forte das migas de alheira.

A viagem continua, desta vez numa outra componente muito importante na história de Portugal: “Da água”, ou mais precisamente os pratos de peixe/marisco. Apesar da dificuldade, a escolha tende a recair no robalo, prato batizado de “Mar Português” (€32). Servido com carabineiro, amêijoa, caviar do mar, navalhas, brócolos e couve-flor, num molho de creme de marisco. O que poderia parecer uma “salganhada” é na verdade uma explosão de sabor. A cada garfada/colherada consegue-se distinguir o sabor dos vários ingredientes, tendo estes sido cozinhados em separado. Desta forma manteve-se o seu sabor original que, por sua vez, conferiu uma maior riqueza ao prato. Não é todos os dias que um “simples” prato de mariscos gera tantas sensações em simultâneo. Uma descoberta a cada colher. Acompanhe com um vinho branco – Mãos Douro DOC – usado essencialmente para limpar, a cada colherada/garfada, o palato e preparar a boca para mais uma explosão de sabor.

O Salão Nobre do Vidago Palace Hotel ajuda nesta dança de experiências à mesa, reforçada com Pintada (da Guiné), servida com couve-galega, puré de trufa e cogumelos silvestres (€29). Um prato onde, claramente, a utilização da trufa faz toda a diferença. E que pede um vinho mais “composto”, como um Quinta dos Castelares, Grande Reserva, 2011. Uma dica: feche os olhos e aprecie a combinação da pintada com uma pitada de puré de trufa acompanhada por um par de cogumelos. Sublime!

Para os mais tradicionalistas (ou menos avessos a novas experiências) a sugestão de sobremesa vai para uma Terra de chocolate com panna cota de baunilha, acompanhada de frutos vermelhos. Um prato menos doce do que o pensado e que é um regalo para a vista. Mas, a verdadeira surpresa está na conceção do chefe pasteleiro Pedro Matos. Tem o nome de “Legumes em sobremesa” e facilmente se percebe porquê. É constituída única e exclusivamente por legumes: creme brulée de ervilha, com glaciar, rebentos e pickles de ervilha, servido com gelado de pimento e malagueta, bolo de abóbora húmido e terra de chocolate. Estranho? Sim, mas, só até à primeira garfada… Para apreciar, com um copo de Alambre 20 Anos (ou um bom colheita tardia) até ao fim.

Artigo publicado a 16 de Fevereiro de 2017, no Boa Cama Boa Mesa.

Alexandra Costa

Jornalista desde 1996. Adoro viajar, conhecer novas culturas, experimentar gastronomias. Sou viciada em livros e nunca digo que não a uma boa conversa e amo a minha Luna. Defendo que mais vale poucos (e muito bons) amigos do que milhentos conhecidos. E prefiro ver o “copo meio cheio” em detrimento do “copo meio vazio”.

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