Domingo, Maio 5, 2024
Notas Soltas

A pandemia tornou-nos desumanos

Há mais de um ano que vivemos em confinamento. Que apareceu o coronavírus. Que adoptámos comportamentos tão estranhos, contrários à nossa cultura. Há mais de um ano que promovemos o distanciamento social.

Mas não é nenhuma dessas coisas que me faz impressão. O que me impressiona foi a desumanização que resultou da pandemia. Deixámos de ser pessoas. Passámos a ser números. É só mais uma morte.

Perdi a conta do número de vezes que li (ou me disseram) frases do género: só quem morre são os velhos. E eles já iam morrer de qualquer maneira.

Isso revela uma total falta de empatia. Será que a sociedade virou sociopata? Ou que tínhamos mais sociopatas do que na verdade poderíamos imaginar? Não sei a resposta a esta pergunta, mas assusta-me a desumanização que se vê, todos os dias, seja nas redes sociais, nas conversas de café (que agora é de rua ou ao telefone), entre conhecidos e desconhecidos.

No pico da pandemia, em Portugal – entre Janeiro e Fevereiro – morriam cerca de 700 pessoas todos os dias. 700. Só de COVID. Isto são dois A350 cheios. Dois aviões. Imagine o que é todos os dias caírem dois aviões e não haver sobreviventes. Foi isso que aconteceu. E no entanto, para muitas pessoas, não se passava nada. Que chatice. Morreram 700 pessoas.

Mais do que o vírus, mais do que ser infectada (sendo que, por ser asmática e já ter tido algumas pneumonias estou inserida num grupo de risco – felizmente não nos mais graves) assustam-me (mas assusta-me a sério) a desumanização que estamos a assistir na sociedade. Espero que ainda consigamos reverter a situação. Mas, dados os comportamentos que temos assistido nos últimos dias e de, mesmo depois de todos estes mês, ainda haver quem considere que isto não é mais do que uma gripe e continue a repetir frases semelhantes à que mencionei acima…. não estou muito esperançada. Espero mesmo estar errada.

Alexandra Costa

Jornalista desde 1996. Adoro viajar, conhecer novas culturas, experimentar gastronomias. Sou viciada em livros e nunca digo que não a uma boa conversa e amo a minha Luna. Defendo que mais vale poucos (e muito bons) amigos do que milhentos conhecidos. E prefiro ver o “copo meio cheio” em detrimento do “copo meio vazio”.

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