Segunda-feira, Março 17, 2025
Notas Soltas

Os Media, as agências de comunicação e as empresas

Reflexão sobre as relações entre media, agências de comunicação (e assessores de imprensa) e empresas

Aquando de uma entrevista se não tiver certeza de algo (por exemplo números) não entre em rodeios ou divagações. Diga simplesmente não sabe essa informação, que vai procurar e que envia a posteriori.

Da mesma forma se lhe fizerem uma pergunta sobre algo confidencial (por exemplo valores quando a empresa está cotada) diga isso mesmo. Lamento, mas não divulgamos esses dados.

Isto porque a sinceridade é sempre a melhor estratégia. Se o jornalista tem como função fazer perguntas, também é claro que o entrevistado não é obrigado a responder a tudo.

Por outro lado, as empresas também têm de perceber que nem tudo o que elas pensam que é notícia… é notícia.

Por outro lado, e aqui envolve trabalho dos assessores de imprensa – um trabalho que muitas vezes não é valorizado pelas empresas suas clientes – ter uma abordagem personalizada – diga-se pensar em abordagens diferentes do mesmo tema, consoante o meio a que se propõe – dá (muito) trabalho, mas, normalmente compensa.

Os jornalistas recebem diariamente dezenas, se não centenas de comunicados e propostas de trabalhos/entrevistas. Claramente os que foram pensados para o meio em questão têm uma maior probabilidade de sucesso. Por exemplo, não se vai propor uma entrevista a uma empresa de tecnologia, que desenhou uma solução de inteligência artificial para seguradoras, a uma revista de lifestyle.

E continuando nos comunicados de imprensa. Por favor… volto a repetir POR FAVOR  enviem a informação num formato editável. O mais simples é o melhor. No corpo do email. Em formato word. Nada de PDFs não editáveis, imagens ou mesmo tabelas. Os jornalistas já têm pouco tempo e se têm de estar a escrever tudo (outra vez) é meio caminho andado para que esse comunicado só seja trabalhado 1) se o tema for efetivamente muito muito importante 2) na eventualidade de se estar com falta de notícia e for preciso “encher” espaço

Ainda nos comunicados. Que venham com imagens, preferencialmente ao baixo (landscape). Nem imaginam o tempo que se perde a pedir imagens.

E ainda nas imagens. Ter boas fotografias, tiradas por um fotógrafo profissional não é uma despesa. É um investimento. Marquem uma sessão com um fotografo, das pessoas que normalmente dão a cara pela empresa, e tirem em várias posições e com várias roupas. Assim ficam com um portfólio profissional, que tanto pode ser usado nos media online como em papel e com um reportório que faz coim que não usem sempre a mesma foto.

Prazos. Quando um jornalista vos contacta com um prazo é porque o artigo tem de ser publicado nessa data. E não três semanas mais tarde. Principalmente quando o meio envolve papel.

Quanto a nós jornalistas. Também temos falhas. Só posso falar por mim, mas, por vezes demoro mais tempo a responder a propostas. No meu caso, que sou freelancer, normalmente isso acontece porque também eu estou à espera de uma resposta. Não é falta de interesse.

Gravações. O código deontológico requer que eu faça uma pergunta no início de cada gravação “importa-se que grave a nossa conversa?” e a acatar a resposta. Até hoje nunca ninguém me impediu de gravar. Acho que isso também acontece porque sou uma fervorosa defensora de uma coisa chamada off the record. Se alguém pede para não se publicar algo não publico. Uma pessoa leva a vida inteira a construir a sua reputação para depois, se não cumprir um pedido, destruir em poucos segundos. E sim, um jornalista depende, e muito, das suas fontes. Não se pode queimar fontes.

Ainda nas gravações. Se alguma empresa pedir para também ela gravar a entrevista a mim não me incomoda. Lembro-me que, no início da minha carreira – literalmente no século passado – a IBM tinha essa prática (que eu defendo como uma boa prática). Aliás, houve uma vez em que o meu gravador avariou e tive de recorrer à gravação deles.

Estas são apenas algumas divagações sobre as relações entre os media, as agências de comunicação e as empresas. Se me lembrar de mais (ou alguém quiser comentar) eu acrescento.

Alexandra Costa

Jornalista desde 1996. Adoro viajar, conhecer novas culturas, experimentar gastronomias. Sou viciada em livros e nunca digo que não a uma boa conversa e amo a minha Luna. Defendo que mais vale poucos (e muito bons) amigos do que milhentos conhecidos. E prefiro ver o “copo meio cheio” em detrimento do “copo meio vazio”.

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